“Desenvolvimento não é só crescimento econômico. É 
também social, ambiental, cultural”(Márcio Pochmann, abertura da 2ª Conferência 
do Desenvolvimento, novembro de 2011).
“A educação é estratégica para as próximas 
gerações, em especial quando novos atores entram em cena no Brasil” (Márcio 
Pochmann, Ciclo de debates do Fórum Direitos e Cidadania, julho de 2011).
“A educação está hoje permeada pela idéia de 
ascensão social. Só a cultura pode quebrar essa idéia”.(Marilena Chauí, Ciclo de 
Debates do Fórum Direitos e Cidadania, setembro de 2011).
A partir das frases/citações acima, abri minha participação na Mesa de 
encerramento da 2ª Conferência do Desenvolvimento, promovida pelo IPEA – 
Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas -, com o título Educação, Cultura e 
Desenvolvimento, coordenada por Juana Nunes Pereira, Diretora de Projetos do 
Ministério da Cultura (MINC), promotor da Mesa, com participação do presidente 
do IPEA, Márcio Pochmann, da Secretária Nacional da Juventude, Severine de 
Macedo, pelo professor José Jorge da UNB e por Leandro da Costa Fialho, 
Coordenador Geral de Ações Educacionais Complementares do Ministério da 
Educação.
O Brasil está à beira de se tornar a 5ª economia do mundo, em meio à crise 
econômica dos países ricos ditos desenvolvidos, da ascensão dos BRICs – Brasil, 
Rússia, Índia e China. Ineditamente, a instabilidade à direita sacode a Europa e 
a estabilidade à esquerda acontece na América do Sul. A Mesa promovida pelo 
Ministério da Cultura não poderia ser mais oportuna.
A crise do projeto neoliberal de desenvolvimento neoliberal traz sofrimento 
para os pobres e trabalhadores, mas também coloca em xeque o modelo econômico 
implantado a partir da queda do Muro de Berlim e do socialismo real. O mercado 
não salvou os povos nem levou ao fim da história. Ao contrário, destruiu 
sociedades, levou ao desemprego, trouxe concentração de renda brutal, fez do 
mercado financeiro o centro da economia, implantou valores como o individualismo 
cego e sem fronteiras, o lucro como última fronteira do sentido de viver. Para 
que solidariedade, partilha, fazer coletivo, justiça social? Para que 
simplicidade, respeito à natureza, vida comunitária, Bem-viver?
Este mundo e seus valores estão ruindo. Mas o que colocar no lugar? Que tipo 
de economia? Quais relações sociais? Qual o papel da educação e da cultura num 
novo projeto de desenvolvimento? Qual a nova utopia, qual o horizonte, como tão 
bem diz Eduardo Galeano, a guiar e orientar corações e mentes?
As respostas estão surgindo aqui e ali. Certamente não estão na rotina de 
fazer o mesmo ou na educação tradicional. Como disse Leandro da Costa Fialho, do 
MEC, podem estar na integração entre a educação formal e a educação popular, por 
exemplo. “A educação popular, antes de se tornar lei, é uma prática social 
presente nos diversos movimentos da sociedade. Antes de se tornar direito 
adquirido, a educação popular é uma prática social e cultural. O papel da 
educação popular na transformação significa a criação de uma nova ordem. Ela não 
é, portanto, um assunto exclusivamente político e econômico. Implica também uma 
dimensão ética e cultural. A educação popular reconhece a vida cotidiana e a 
experiência como espaços de espaços de construção da nova hegemonia ou nova 
maioria. A educação popular valoriza a cultura popular como fonte de identidade 
e força de um projeto nacional popular” (Texto para debate “Educação popular 
como política pública”, da Rede de Educação Cidadã – RECID – 
www.recid.org.br).
Segundo Álvaro Garcia Linera, vice-presidente da Bolívia e considerado por 
muitos o mais importante latino-americano contemporâneo, “a reivindicação da 
educação como direito coletivo é fundamental. É um fato universal. Não é 
sindical ou reivindicatório. Os jovens chilenos que lutam pela educação, que o 
fazem também na Europa, estão lutando por um novo universo, por um novo 
entendimento do que é patrimônio de todos para serem humanos, para serem 
cidadãos, independentemente do território ou da condição econômica” (‘Não haverá 
nunca mais uma Bolívia sem índios’ – www.cartamaior.com.br).
A resposta pode estar na promoção de “valores e aspirações da sociedade em um 
olhar sistêmico que traga ao centro dos debates as dimensões humana, espiritual 
e cultural como base para a mudança de comportamento”, como diz o documento “Um 
Acordo para o Desenvolvimento Sustentável e a Conferência Rio+20”, recém lançado 
pelo Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social e Entidades Signatárias, 
“Contribuições para a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento 
Sustentável – Rio+20” (www.cdes.gov.br).
Diz mais o documento: “A educação é eixo prioritário e estruturante do 
desenvolvimento, vetor para libertar os potenciais de criatividade, inovação e 
de produção e, especialmente, elemento viabilizador da construção cultural para 
um novo padrão de convivência com o meio ambiente.” E propõe: “Incentivar a 
mobilização das redes sociais para o processo de mudança de cultura e de valores 
na transição para o novo padrão de produção e consumo e a economia verde 
inclusiva. Promover a participação da sociedade civil na governança do 
desenvolvimento, por meio do fortalecimento das organizações da sociedade, redes 
sociais e associações de diversos tipos; e da implantação e fortalecimento de 
mecanismos participativos e de escuta, como conselhos, audiências públicas, 
mesas de diálogo, ouvidorias, entre outros, em todas as esferas nacionais e 
multilaterais.”
Ou, talvez, como propõe a Carta aberta de educadores e educadoras por um 
mundo justo e feliz: “Precisamos aprender e exercitar outras formas de fazer 
políticas públicas a partir das comunidades, e exigir políticas estatais 
comprometidas com a qualidade de vida dos povos. Para tanto, faz-se urgente 
fortalecer os processos educadores comprometidos com a emancipação humana e a 
participação política na construção de sociedades sustentáveis, onde cada 
comunidade humana sinta-se comprometida, incluída e ativa no compartilhamento da 
abundância das riquezas e da Vida no nosso Planeta: Aprendizagem transformadora, 
Alfabetização ecológica, Educação popular ambiental, Eco-pedagogia, Educação 
Gaia, Educ-Ação sócio-ambiental. Mais que nunca apelamos por uma educação capaz 
de despertar admiração e respeito pela complexidade da sustentação da vida, 
tendo como utopia a construção de sociedades sustentáveis por meio da ética do 
cuidar, e de proteger a bio e a sociodiversidade” 
(www.tratadoeducacaoambiental.net).
O caminho está aberto. Mãos à obra.
Em dois de dezembro de dois mil e onze.
por Selvino Heck*
* Selvino Heck, Assessor Especial da Secretaria Geral da 
Presidência da República
** Publicado 
originalmente no site Adital